O livro Carybé, Verger & Jorge - Obás da Bahia, além de celebrar a arte e a amizade existentes entre esses personagens e comemorar o centenário de Jorge Amado, escritor que tão bem soube descrever a Bahia, seus costumes e encantos, tem como foco o candomblé, religião dos antepassados e onde os três foram agraciados com um dos títulos mais respeitáveis da crença africana: Obás, ministros de Xangô, amigos e protetores dos terreiros. O cargo foi dado pela iyalorixá Mãe Senhora, no Ilê Axé Opô Afonjá, um dos terreiros mais reverenciados da Bahia.
Neste livro, costurado por textos de Jorge Amado, o leitor verá fotos e traços de Verger e Carybé sobre o tema e tomará conhecimento sobre o culto aos Orixás, os significados de um terreiro baiano e o papel desempenhado por algumas iyalorixás, Mães de Santo, sacerdotisas de tradicionais terreiros da Bahia. Os três personagens utilizaram a própria arte para descrever o cotidiano das Casas de Santo: Carybé ilustrou, Verger fotografou e Jorge Amado descreveu os hábitos e crendices do povo de Axé. É de Pierre Fatumbi Verger uma das frases mais emblemáticas ditas em uma época em que cultuar os orixás era considerado crime.
"O Candomblé é para mim muito interessante por ser uma religião de exaltação à personalidade das pessoas. Onde se pode ser verdadeiramente como se é, e não o que a sociedade pretende que o cidadão seja. Para pessoas que têm algo a expressar através do inconsciente, o transe é a possibilidade do inconsciente se mostrar", disse o etnólogo.
"Costumo dizer que os amigos, contemporâneos, baianos fundamentais, Carybé, Verger e Jorge não foram fundamentais para o candomblé, mas o candomblé foi fundamental para eles. Não à toa ele três, e também Caymmi, foram escolhidos e consagrados ministros de Xangô pelas mãos da sempre reverenciada iyalorixá Mãe Senhora, do Ilê Axé Opô Afonjá. Isso representa a força que a religião teve e ainda tem como elemento aglutinador que exaltou a afinidade e a amizade entre eles", disse Gilberto Sá, presidente da Fundação Pierre Verger.
A obra encerra com maestria a trilogia iniciada com o livro Carybé & Verger - Gente da Bahia, em 2008, que trata da alegre e fraterna amizade desses dois viajantes que renasceram na Bahia e retrataram o dia a dia da gente mais simples de Salvador e do Recôncavo. Na segunda obra, Carybé, Verger & Caymmi - Mar da Bahia, lançada em 2009, o leitor percebe o colorido das fotos em preto e branco da velha Rolleyflex de Verger, bem como toda a riqueza dos traços singulares de Carybé, prenhes de movimento e poesia que retratam o cotidiano da época em que as velas dos saveiros enfeitavam o azul das águas da Baía de Todos os Santos. Toda essa riqueza foi embalada no livro pelas magníficas canções praieiras de Caymmi, que acabaram servindo como trilha sonora para a obra.
"Carybé, Verger & Jorge - Obás da Bahia descreve a interação entre Carybé e Verger, que vieram conhecer a Bahia após a leitura da obra Jubiabá, escrita por Jorge Amado, que acabou servindo de motivação para a viagem deles", conta Enéas Guerra, idealizador da publicação da série ‘Entre Amigos' e responsável pela concepção, edição e design da trilogia. "Neste último livro trata-se do candomblé como fonte de inspiração para a arte peculiar de cada um desses três personagens. As ilustrações de Carybé ganham ainda mais vida quando fundidas com as fotos de Verger e com as narrativas de Jorge Amado", define Enéas Guerra.
Lançadas separadamente, a partir do lançamento de Carybé, Verger & Jorge - Obás da Bahia, o público poderá adquirir toda a trilogia Entre amigos numa luva especialmente concebida para reunir as três obras. A luva com os três volumes estará à disposição dos interessados nos formatos bilíngue Português/Inglês e Espanhol/Inglês. "As obras se complementam. No início pensávamos na produção de apenas um livro, mas com a quantidade de conteúdo cultural apresentada por esses artistas não tivemos opção senão separarmos em outras edições. A coleção é um grande presente", disse Gilberto Sá.
"Em Carybé, Verger & Jorge - Obás da Bahia fiz um link entre os três personagens e a cultura negra, mais precisamente sobre o candomblé da Bahia com suas maiores representantes no século XX, as iyalorixás Aninha e Senhora, do Ilê Axé Opô Afonjá; Mãe Menininha, do Gantois; Tia Massi, da Casa Branca e outras. Usei os textos de Jorge Amado e as inúmeras correspondências trocadas entre esses Obás e as mães de santo para provar a amizade e o respeitoexistente entre eles. Questionei o porquê de três pessoas descrentes em religião serem justamente os maiores defensores do candomblé, tendo recebido, inclusive, o título de ministros de Xangô, um dos mais importantes para o povo de Axé. enquanto no livro Carybé & Verger - Gente da Bahia usei uma linguagem mais humorística e no Carybé, Verger & Caymmi - Mar da Bahia foi usada locução mais poética, em Carybé, Verger & Jorge - Obás da Bahia, o leitor encontrará um texto mais jornalístico, bem ao estilo Jorge Amado de descrever, além de uma breve biografia de algumas Iyalorixás da Bahia", disse o jornalista José Barreto, autor e organizador da trilogia Entre Amigos.
Foto: Divulgação
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